agosto 16, 2014

Pena Azul

Depois do rasgo, veio o livro. 

Edição antiga, mas bem conservada, emprestada. Foi para o canto da mesa-de-cabeceira. Por enquanto... Enquanto o encanto de uma nova leitura não surgisse. 

Acabou por surgir no cais, na véspera de mais uma férrea viagem. Ele pegou no livro, sacou de uma caneta, e sacando da atitude descarada, foi à primeira página e escreveu debaixo do título:


"TUDO O QUE ESTE LIVRO DIZ PODE ESTAR ERRADO"


Sorriu e eu sorri de volta e pensei que pronto, seria mais uma das suas deliciosas tiradas filosóficas. 

Entretanto lá comecei a percorrer as páginas, e fui constatando que esse livro falava de um outro livro. Pausa. Aliás, várias - outro tipo de comunicação escrita urgia, nada de o adiar. 

Folheando à sorte, por mera curiosidade (não direi coincidência, pois é algo que não existe), fui ter à última página... E lá estava a frase de início. A frase que ele justamente tinha escrito. Sorri novamente. 

"Reparo que a frase que escreveste no livro está na última página" - escrevi-lhe eu. 

"Tu e a tua mania de veres a última página dos livros" - escreveu ele. 

"Tu e a tua mania de escreveres o final do livro antes de eu o ler...". Como aqueles que contam os finais dos filmes antes de os vermos. 

Mas não. Ele disse que não era o final do livro. E afinal não era - ainda havia o epílogo. 

E este acontecimento todo quase que dava para escrever um livro sobre um livro que falava sobre um livro... 

Não resisti por fim a lhe dizer: 

"Tens uma letra bonita. Devias escrever mais vezes".