dezembro 28, 2014

De Rajada

Queres falar?
Se não quiseres eu não me importo. Ouvir a tua respiração também é importante. Conversas de silêncio são igualmente ternas e agradáveis.
E quantas vezes em silêncio eu não sorria para mim? E quando não sorria, tapava a cara com os cabelos ou com as mãos, cabeça encostada a pedra ou a vidro.
Encostava-me ao teu peito e tudo era perfeito. Olhava a luz do candeeiro ali ao lado. Olhava-te enquanto te olhavas por dentro.
Dentro da gaveta ainda guardo aquele lenço. Sinto-lhe o cheiro e disparo, transporto-me nele até aos momentos em que o tinha tão, mas tão perto. Tinha-te.
Tenho o peito apertado. O meu coração sofre de gigantismo. Inspiro com um pouco de dificuldade. Expiro tudo que se balança na ténue linha que separa o ser do estar.
Sou à espera que queiras falar. Ou pelo menos, que me oiças respirar-te.

dezembro 27, 2014

Calçada

As pedras da calçada
Me gravam os passos
E entre espaços as vejo

Vou no encalço
Do compasso
Que elas dão à minha calma
À minha pressa
Ao pensamento encadeado pelos sons
Os da rua e os que escolho para ouvir

As pedras da calçada
Me gravam os passos
E entre espaços as choro.

dezembro 11, 2014

Parabéns

Hoje é o meu aniversário!

Quem me conhece minimamente bem vai pensar que esta rapariga só pode estar maluca, que eu saiba ela fez anos há 3 meses, a não ser que se ache no direito de os fazer duas vezes, como só uma pessoa louca se acharia... Nada disso. Hoje é o meu aniversário, e não porque eu tenha nascido neste dia, mas sim porque metade de mim o fez.

Por isso, hoje acordei a pensar nessa metade e na melhor forma de a homenagear. Pensei em proporcionar-lhe uma grande festa-surpresa, com balões, "confettis" e tudo, embora ela não fosse achar muita piada... Não, é mentira. Não pensei em nada disso. Justamente porque ela não iria achar piada; aliás, do pouquíssimo muito que a conheço, arrisco a dizer que não acharia piada nenhuma. Portanto, nem seria por aí. Lembrei-me então que, no nosso dia, aqueles que fazem parte de nós - os verdadeiros - acabam de algum modo por nos agradecer pelo facto de os mantermos cá dentro.

Com efeito veio-me à cabeça um determinado conjunto de olhares - os mais belos e ternos que alguma vez me foram lançados - e agradecer à tal minha metade por isso; é que foi ela que mo deu. Pelas tertúlias à mesa em que as nossas bocas só diziam disparates e pelas outras em que as nossas bocas falavam um idioma sem tradução, que só nós entendíamos. Pela nudez da verdade e da pele...

Pensei também em agradecer-lhe por se ter tornado na mais perfeita inspiração que inúmeras vezes me guiou a caneta e os sonhos. Por me ter suscitado algum interesse em batidas musicais oitentistas e nas batidas do meu próprio coração... Já para não falar nos "flashes" de fotografias captadas ao meu corpo e também ao meu sentir. Fez-me inclusive dançar com o sol e pegar na lua com a mão! Pensei em agradecer-lhe por tudo isso e tanto mais... Mas principalmente por se ter tornado na metade de mim que me faltava.

Hoje é o teu aniversário. Não tenho festa planeada, nem bolo com velas, nem presentes, nem coisas especiais e lamechas tipo bilhetinhos e pétalas de flores. Tenho apenas esta homenagem de parabéns pensada e sobretudo sentida, e é com ela que te celebro. Obrigada. Apesar dos pesares, da soma que o tempo nos faz à vida e da subtracção que ela depois nos vem cobrar, da volatilidade humana e da humanidade que é errar, minha metade és tu... E eu te amo por inteiro. Ipsis verbis.