setembro 29, 2013

Reencontro

Recebe-me bem, com tranquilidade e serenidade, e sobretudo com todo o amor que tiveres aí dentro. Abraça-me com força, sente o meu corpo guardado para ti, beija-me intensamente... No caminho até casa fala-me das tuas férias, de coisas boas, do nosso futuro. Esquece o passado, as ironias e as "pancas". Ao chegarmos a casa leva-me para o quarto, despe-me devagar, aprecia-me, toca-me, sou tua... Relaxa-me, sem pressões nem pressas. Lembra-te da altura em que desejavas tudo isso quando ainda não me tinhas. Delicia-te comigo e leva-me às nuvens. Não te sintas frustrado com nada. Depois satisfaz-te tu em mim, deita-te a meu lado quando desceres à Terra, olha-me nos olhos... Deixa-me olhar nos teus e, mesmo que a minha boca não diga nada, eu vou-te dizer que te amo...

setembro 28, 2013

setembro 26, 2013

Teologia

- Olha, eu vou-te dizer uma coisa... Posso?

- Sim, claro...

- Eu acho-te um homem incrível e gostava muito que partilhasses a tua vida comigo... Não te sei dizer se ela será curta ou comprida, só Deus sabe, não é? Mas pronto, eu julgo que Ele até tem planeada para ti uma vida longa, e seria interessante se eu a pudesse acompanhar de perto e confirmar que realmente Deus existe... Aliás, basta saber que tu existes para realmente confirmar isso... Mas vou fazer de conta que não sei... Só para ter o prazer de saber que tu existes...

setembro 23, 2013

O Objectivo

Ela perguntou-lhe:

- Quais são os teus objectivos na vida?

Ele pensou um pouco e respondeu:

- Dar a volta ao Mundo... Com um "backpack".

Revelou simplicidade, de facto. Ela questionou-se interiormente se não seria simplicidade a mais. E ele adivinhou-lhe os pensamentos.

- Pensavas que algum objectivo pudesse passar por ti?

- Não propriamente - respondeu ela. Não seria lógico nesta fase, acrescentou mentalmente.

E permitiu-se a si própria ficar tranquila. É que, mais cedo ou mais tarde, ele regressaria a casa.

setembro 22, 2013

Perdura

Beatas de cigarro descansam num cinzeiro improvisado aqui ao lado. O meu olhar descansa no raio de sol vespertino que trespassa a cortina. Segundo dia outonal (nem parece), o primeiro de muitos? Em redor do meu nariz, perduras. Angustia-me pensar que só me falta mais um par de dias para fazer-te perdurar nele, e depois, puf, só daqui a um tempo voltarás e só daqui a um tempo voltarei a assimilar-te através dos meus sentidos. Estive a dormir. Estiveste a dormir. Ainda estás. Eu aqui, com a cabeça preenchida de tudo e ao mesmo tempo de nada. Só quero é que perdures. No meu nariz, na minha boca, nos meus olhos iluminados pelo raio que ainda trespassa a cortina. Desejo secretamente que acordes, que enchas novamente o cinzeiro à tua vontade, e que me permitas olhar então para dentro dos teus, mais uma vez. Tenho paz e plenitude para ir lá buscar. Deixa-a à solta.

setembro 14, 2013

Pertences-me

Quando ponho a tua cara entre as minhas mãos, a agarro com uma força suave e olho bem para dentro dos teus olhos (de preferência sem óculos porque até vejo bem ao perto)... Vejo o significado de tudo, e até mesmo lá ao longe. Uma voz interior, que tem o meu timbre, fala para dentro deles sem tu ouvires. E eles brilham muito ao ouvi-la, e esse brilho volta para mim e me inunda toda por dentro. Ao agarrar-te na cara é como se te estivesse a dizer "tu pertences-me, és um bocado do meu corpo", e é como se te quisesse conservar e evitar que te extingas... Não te apartas de mim... Cada tendão nosso que se rasga traz uma dor insuportável...

setembro 11, 2013

Eutanásia

Entrei no quarto branco, frio, a tresandar a éter. Ali estavas tu, deitado, de olhos fechados, a dormir. Desta vez, resolvi não fazer a habitual vigília.

Todos os dias, eu cumpria com a minha parte - sentava-me a teu lado, observando-te, ora rejubilando com cada sinal de vida que davas, ora entristecendo-me quando parecias estar mais inerte. Infelizmente, o teu estado não era constante. Eu vivia de coração sobressaltado, querendo alcançar o compasso das batidas do teu. Recordo-me de todo o fulgor que possuías quando te conheci, e que me cativou de uma tal forma que eu dava tudo para o alimentar. Até que, a certa altura, tu próprio deixaste de o ter. Desfaleceste perante mim; não tinhas grandes hipóteses de sobreviver. Ao invés de ter esperança do contrário, assumi perante mim a veracidade dos factos: mesmo que voltasses à vida, não serias o mesmo aos meus olhos. 

Tomei a decisão mais sensata que podia - colocar-te em coma induzido, e tentar libertar-me do peso que sentia permanentemente nos ombros. Mergulhei-te, afundei-te até onde pude, até onde uma parte de mim quis, até onde não pudesse mais sentir-te, conter-te... Iniciei então uma nova caminhada, enquanto continuavas ligado a máquinas e tubos. Até que, certo dia, a outra parte de mim quis conter-te de novo. Retirei-te do coma, abristes os olhos... E entretanto o meu pior receio confirmou-se... Afinal, tinhas realmente deixado de ser o mesmo. Não mais deste sinal de verdadeira vida. A cadeira onde eu me sentava a vigiar-te tornou-se demasiado desconfortável.

Por isso, desta vez, foi diferente. Contemplei-te por uma última vez. Agarrei na seringa, determinada. Não pensei muito. Introduzi a agulha afiada no teu braço. Não reagiste. Há quanto tempo estarias realmente inerte?...

O líquido letal tomou conta das tuas veias, da tua carne, da tua alma. Consegui vê-la deixar-te. A alma que eu tanto almejava para comungar com a minha em harmonia eterna.

Não derramei uma lágrima sequer. Estava feito. Ponto final. Só depois é que pensei que poderia haver 1001 razões para viveres, mas apenas uma para morreres, e eu tinha optado justamente por essa.

De súbito, alguém bateu à porta do quarto e abriu-a devagar. Do outro lado, ouvi uma voz:

"Então, já está?"

Reconheci-a e sorri. "Sim... Estou livre", respondi. 

E saí porta fora, abandonando-te naquele quarto, branco e frio, ao qual não voltarei mais. Nunca mais.

Descansa em paz.

setembro 07, 2013

Vontade E Propósito

Enquanto o meu corpo obedecia ao ritmo da música, a minha cabeça obedecia a devaneios povoados de ti... Pequenos pedaços de sonho que ao se fundirem, formam uma vontade e um propósito a serem cumpridos em nome de uma existência que valha a pena neste mundo...

setembro 04, 2013

A Expressão

Não é porque me convém, não é porque está na moda, não é porque até nem tinha nada de interessante para fazer e cá vai disto. Não é baseado só num mero companheirismo, só para dizer que existe um par de passos a acompanhar os meus, ou numa volatilidade carnal...

Não é para justificar isso que essa palavra, ou mais correctamente dizendo, essa expressão, existe. Ela concentra muito mais do que estes aspectos. Três vogais, duas consoantes e um hífen ali pelo meio. E basta. É o que basta para concentrar uma única e irrepetível essência, como se eu tivesse descoberto um novo e desconhecido aroma de perfume, de cuja existência nem sequer a Natureza se apercebeu, e quisesse aprisioná-lo num frasco e ir exalando essa maravilha a toda a hora, todos os dias, até chegar ao ponto em que o meu olfacto - e até mesmo o resto dos meus humildes sentidos - já não iria conseguir sobreviver sem esse aroma...

É nessa expressão que se concentra uma vaga de calor reconfortante, tal como uma chama de lareira num rigoroso Inverno... Uma pulsação de vida, um lampejo de clareza racional... Uma linguagem igual àquela que eu falo, uma onda de frequência semelhante àquela na qual navego... É nela que se concentra a minha posição perante tudo isso e muito mais. Porque há almas que conseguem transbordar um corpo, e alcançar um outro, e retirar dele um pedaço da sua alma, fazer ali uma mistura mágica e tornar esse pedaço ainda maior...

É através das dúvidas que se constroem as certezas. E poderá essa alma duvidar de tudo o quanto este pobre mundo é feito... Mas que ela nunca duvide da certeza veemente que eu tenho de a querer.

E muito menos da tal expressão. Aquela que se escreve com três vogais, duas consoantes e um hífen ali pelo meio.

AMO-TE.