dezembro 26, 2010

Carta

Minha cara amiga:

Penso que seja esta a primeira vez que te escrevo, em tantos anos... E de certeza que já deves saber qual o motivo que me leva a fazê-lo...

Conheço-te desde sempre, e tu a mim. Desde muito pequena que lido contigo e que te trato por tu, tal é a proximidade que nos une. Por opção minha ou por força das circunstâncias, tornaste-te numa companhia quase constante, que costumava preencher o vazio que experienciei em certas alturas da vida - aquelas alturas em que mais ninguém se dispunha a estar perto de mim, em que ninguém mais se importava com os meus dilemas.

Partilhámos muitos espaços, muitos tempos, e ainda hoje isso acontece. Mesmo estando eu no meio de uma multidão, és tu quem eu vejo e é contigo que eu conto para me sentir abrigada, reconfortada. No fundo, és importante para mim. Mas ultimamente, tens vindo a ser um pouco cruel comigo. Tratas-me mal e isso dói-me. Deixaste de ser a habitual ouvinte das minhas lágrimas, para passares a ser a causa delas.

Porque me fazes isso? Talvez tenhas receio de que haja pessoas a querer destronar-te, tirar-te o lugar, e é o que provavelmente faz de ti um ser insuportável. Não, não quero que te vás embora definitivamente da minha vida; fazes-me falta de vez em quando... Eu confesso. Contudo, sinto necessidade de me manter afastada de ti. Sinto que me estás a consumir, ao ponto de me quereres matar de vez. Por isso ando à procura de alguém que me possa defender. 

Esforça-te para me entenderes... Eu até gosto de ti, e agradeço-te pelo silêncio reparador que instalaste em mim quando eu mais precisei. Mas estás a transformar-te aos poucos numa amizade perigosa, pela forma como ages comigo, e assim sendo, dispenso a tua presença nos meus dias. Por favor, não me tentes aprisionar! Eu te peço com todas as forças que ainda me restam... O meu coração está fraco, precisa de quem lhe consiga injectar fôlego para ele bater, e tu não estás a colaborar! Afinal és minha inimiga?!...

Liberta-me, deixa-me ir, não me leves o que ainda tenho para viver! Eu prometo que voltarei para ti... Só que não tão brevemente. Enquanto eu não encontrar a cura para a minha alma doente, quero que fiques longe, bem longe... Porque sei que se estiveres por perto, vais piorar as coisas, e então os papéis se inverterão. Serás tu a vítima.

Não encares isto como uma ameaça. No entanto, se pretendes continuar com a tua existência, não me impeças de encontrar um sentido para a minha...


Adeus, Solidão... Até um dia.



Desta sempre tua

dezembro 15, 2010

Coffin

In this coffin I rest, I lay
My hands, they seem so pale
In this world I couldn't stay
My heart just met its fail...

And now somebody's around me
Looking at my lost expression
I wish I could live, I could be
Some secret kind of possession.

But now this body is no longer
The object you had admired
You wasted it, you weren't stronger
Enough to make it desired.

Dry your tears, my beloved one
Please, don't break down and cry...
I'm alright, 'cause it's all done...
It was you that left me to die.

Sente

Já que chegaste até aqui, coloca-te em frente a mim.
Fecha os olhos...
Respira bem fundo...
E sente apenas a ponta dos meus dedos
Percorrendo-te delicadamente
Quase sem te tocar...
Fecho os olhos
Vejo que te arrepias
E que a luz que trazes contigo brilha ainda mais...
Não precisas de falar
Eu consigo ouvir o que tens para dizer...
Consigo ver os golpes que outrora alguém desferiu.
(Eu também os tive...)
E aqui estás tu, tão vulnerável perante mim.
Mas és tão belo. És tão tudo.
E no fundo te achas nada...
Contemplo-te como se o tempo não mais existisse
E o espaço se desvanecesse.
Coloco a mão sobre o teu peito; o teu coração palpita
E eu quero chegar até lá.
Quero tanto...
Deixa-me chegar até lá. Deixa-me entrar.
Deixa-me curar-te, libertar-te de todos os fardos...
Não sofrerás, eu prometo.
Mas chora, se assim quiseres...
Eu te darei o meu ombro, o meu conforto
A minha compaixão.
Eu te compreendo, embora não queiras compreender isso.
Tens medo, mas nada há que temer.
Tens-me aqui.
Tens-me a mim...

dezembro 12, 2010

Sala De Espera

Entrei na sala de espera e observei o que me rodeava: tanta, mas tanta gente! Tanta gente sentada, a perder de vista!... Tanta gente à espera... Do mesmo que eu... Aliás, todos à espera da mesma coisa. Só havia uma porta, que naquele momento estava fechada. Uns falavam entre si, outros permaneciam calados. Mas todos ansiosos para que ela abrisse.

Encontrei milagrosamente uma cadeira vaga e sentei-me. Fiquei igualmente à espera. Reconheci algumas pessoas ao longe, mas não cheguei a falar com elas. Pareceram-me bastante optimistas, pois deviam  pensar que seriam as primeiras. No fundo de mim, eu também  tinha essa expectativa.

Assim me mantive, com um sorriso nos lábios, esperançosa, sonhadora. Até que a porta se abriu... Finalmente, a porta abriu-se!... Sentia-se a excitação em toda aquela sala. Todos vibravam de emoção. Ouviram-se nomes. Imensos nomes, ditos em voz bem alta, para que não houvesse dúvidas. Os que iam sendo chamados levantaram-se e dirigiram-se para a porta um a um. Foram entrando ordenadamente. Via-lhes sorrisos enormes, brilhos nos olhos, transbordavam alegria. Fiquei contente por eles, por todos eles, como se aquilo estivesse a acontecer comigo. Eles acenaram-me, eu acenei-lhes de volta, só por cortesia. Não era nenhuma despedida, porque eu sabia que me iria juntar a eles. Era uma questão de tempo.

A enorme sala de espera foi-se esvaziando. Havia cada vez mais cadeiras vagas. Quase que se podia ouvir o eco da minha respiração... Uma respiração acelerada. Fui aguardando. Aguardando. Aguardando... Esperando ouvir o meu nome...

Até que ouvi a porta a fechar-se com grande estrondo. O meu coração parou. Gelei. Quando me dei conta, eu era a única pessoa que ainda estava sentada. A única. Ninguém me tinha chamado. 

Teria havido algum engano? Algum lapso? Será que já me tinham chamado e eu não ouvi? E porque é que ninguém me tinha avisado?... Não podia ser. Esperei mais um pouco, com a sensação de que alguém se tinha esquecido de mim, mas que se iria lembrar rapidamente. Não ia tardar nada. E eu poderia finalmente entrar naquela porta. 

As horas passaram. Nada. Ninguém se lembrou. Esqueceram-se mesmo de mim. Eu nem queria acreditar. Afinal, não seria eu merecedora de entrar também?!...

Ali estava eu. Sentada, na sala de espera. Outrora, repleta de gente. Agora, completamente vazia. Só ficaram as cadeiras. As paredes nuas. O chão frio. O tecto lá longe. Um silêncio ensurdecedor. E eu.

Levantei-me e fui bater à porta. Infelizmente, ninguém me abriu. Bati com todas as forças que me eram possíveis. Magoei os punhos. Gritei. Chorei de desespero e raiva. 

Tentei sair na porta pela qual tinha entrado anteriormente. Não consegui. Estava trancada. Quem é que a trancou?...

Apercebi-me que nada podia fazer. Resignei-me... No fundo eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém me viria buscar. Voltei a sentar-me. Encostei a cabeça contra a parede, fechei os olhos. Acalmei-me, por fim.

E ainda lá estou. Sentada, na sala de espera. À espera que alguém chame o meu nome. À espera de ser feliz.

dezembro 10, 2010

Numa Página

Houve um momento em que ficámos ambos deitados, eu com a cabeça apoiada no seu peito, ele de cara inclinada para o lado e de olhos fechados. Acariciei-lhe o pescoço muito suavemente, a face, e ao mesmo tempo ia pensando em como me sabia tão bem estar ali, senti-lo tão meu, tão perto de mim... E era capaz de estar assim a tarde inteira, a dar-lhe carinho... Disse-lhe "Amo-te" em silêncio. Acrescentei depois um "Amo-te muito", mais uma vez sem soltar a voz. Não queria que ele ouvisse, porque sei que para ele é uma palavra complicada de assimilar. E ao pensar nisso, ao pensar na sua incapacidade de retribuir o que sinto, a minha expressão crispou-se. Pensei em como era injusto. Pensei em tudo o que se tem passado até agora, mil e um episódios me vieram à cabeça, senti-me impotente por nada poder exigir... Senti-me tão frágil... E uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

dezembro 07, 2010

Éramos Uma Vez Água

Éramos uma vez Água...
Lembras-te?
Não éramos mais nada.
Éramos nós.
Éramos juntos.
Ela descia sobre nós e nós fazíamos parte dela.
Éramos límpidos, puros, cristalinos.
Fundidos num só.
Lembro-me que fechaste os olhos e deixaste que ela te dominasse.
Te purificasse.
Que ela tomasse conta dos teus sentidos
Fazendo-te sair de ti.
E eu a ti me juntei, libertando-me também.
E o tempo parou.
Éramos só aquele instante.
O instante em que nos deixámos fluir em nós próprios
Sentindo a Água a acariciar a pele.
A minha pele.
A tua pele.
A nossa pele.

Sei que sou Terra, sei que tu és Ar.
Mas um dia, fomos Água apenas...
Lembras-te?

dezembro 06, 2010

SMS

Gostava de estar contigo agora
Beijar-te sem demora
Nem que fosse por uma hora
E ficar com a certeza de que nunca te irias embora...

Desta que te adora.