novembro 08, 2014

Da Minha Janela

Da minha janela ouvia o sino a repicar
Gaivotas recitando odes às nuvens
E aos telhados
Ruídos de mecânica e de crianças a brincar
Os comboios a saudar o cais.

Da minha janela sentia
A brisa do rio
Tons de ocre e de pedra a explodir por todo o lado
O cheiro de um almoço alheio e de roupa lavada
O burburinho das gentes e dos viajantes.

O sino deixou de dar as horas...
Ninguém tem tempo para o escutar.
As nuvens não gostam de cabos eléctricos...
E as crianças passaram a ser adultos
Que preferem os automóveis.

Brisa, só mesmo a do vento
Que disfarça o cheiro de roupa e de comida pronta.
Há outras cores e outras gentes
Mas nenhuma delas viaja.

Da minha janela... Eu sorria.

novembro 04, 2014

Comunicado

Não sou pessoa de esconder emoções. Nunca fui, nem nunca serei. Quando tiver que rir, rio; quando tiver que chorar, choro. Seja onde for. Quantas e quantas vezes já não o fiz nos transportes, em pleno horário de trabalho ou até junto de pessoas perante as quais supostamente não devia?

E neste momento não consigo esconder isto: é incrível como o simples facto de fazer coisas tão naturais tais como tomar banho ou fazer a cama se tornou tão doloroso. Que se antes adormecer era coisa que não me doía, agora custa imenso... Vem-me à cabeça uma certa sensação de embate que sofri (quem já foi atropelado - e sobreviveu, claro... - sabe do que falo) e do corpo a colapsar-se todo. E acordo justamente com isso na cabeça.

Quando se assume um compromisso, há que cumpri-lo. E eu assumi um. O de estar perto, estar junto, acontecesse o que acontecesse. Dissessem o que dissessem; a vida é minha e eu é que decido o que fazer com ela. O compromisso de ajudar e cuidar, no que fosse preciso. E somente o meu lado de dentro é que sabe o quão veemente esse compromisso foi assumido, de forma fidedigna e devota. Nunca procurei mais ninguém e recusei-me a dar um ínfimo de segundo da minha vida a quem realmente não fazia por merecê-lo. Reservei todo o meu tempo e energia para aquilo ao qual me comprometi. E assim sendo, fui negando aquilo que se estava a tornar tão evidente à minha volta... Que não há duas pessoas iguais, mesmo que sintam algo igual, e que portanto a realidade não é vista e vivida da mesma forma. Que por vezes aquilo que mais queremos não é o melhor para nós... Mas eu, dentro do meu ovo de esperança e positivismo, daqueles bem opacos, acreditava que havia outrém com um lado de dentro idêntico ao meu, embora não o mostrasse.

E assim me fui mantendo, mas ao mesmo tempo um misto de medo, ansiedade e insegurança ia rachando devagarinho a casca do ovo, e eu, assustada, lá ia tapando as fissuras da melhor forma que podia... Até ao ponto em que a casca se partiu, definitivamente... E o que vi no exterior não foi bonito. Já não havia forma de recuperar o tal ovo, portanto tive que me defender de uma espécie de monstruosidade que se formou ao meu redor.

Cometi erros? Claro. E posso ter demorado tempo a assumi-los, mas ao menos assumi. Mas não fiz nada, nada mesmo, que se compare aos que foram cometidos contra mim. E sobretudo, contra o tal compromisso. Que era tudo. Bom, no fim de contas, quem aponta o dedo a alguém, tem logo 3 a apontar para si próprio. Também não estou imune a isso. Por isso é que até prefiro manter a mão fechada, e deixar que o tal karma, esse grande mestre, trate do resto. E que não demore tanto quanto a minha vida presente. Ou melhor, ausente.