junho 12, 2015

Estamos!

Lembro-me tão bem como se fosse ontem.

Era de noite, era Verão, ambos em casa, sentados no sofá, com o portátil no colo, conectados na rede que nos havia conectado nesse mesmo ano.

“ - Estamos numa relação?”

De repente sais-te com esta. Ainda só tinham passado quatro dias… Quatro dias apenas, desde aquele em que nos tínhamos conhecido. Mas em bom rigor, entre a primeiríssima conexão de todas (tudo por culpa de uns blogues) e a tua pergunta, decorreram quatro meses. Teoricamente.

É engraçado como se quantifica o tempo para nos situarmos, para nos justificarmos, quando na verdade é a qualidade que importa. Em teoria, quatro meses haviam passado; na prática, foram muito mais, os suficientes para realmente chegarmos àquele ponto em que tu te sais com aquela… Em que, na prática, mesmo antes de nos termos conhecido, já nos conhecíamos.

É engraçado como o tempo passa… Mas lembro-me tão bem como se fosse ontem.

Que pergunta tão retórica, tão óbvia.

" - Estamos!", respondi eu, reforçando o óbvio. Retórica, teórica e praticamente, estamos. E estávamos, há muito. Pronto, ficou oficial. Eu numa relação contigo, tu numa relação comigo. Na rede e tudo. Sobretudo na rede de sensações e emoções que foi crescendo e nos prendeu da forma mais fantástica e inesperada possível.

O portátil foi testemunha, toda a casa, a noite de Verão também. Que seria a primeira de tantas noites e tantos dias e tantas coisas para viver, cheias de metades que completam o todo.

A partir daquele dia, fundámos uma parceria, feita de imagens icónicas e um sistema de comunicação próprio, de linguagem lexical, apenas por nós falada e compreendida. Mais do que uma relação, o amor virou instituição. De fundos de investimento privados, que de vez em quando, fomos tornando públicos. Bastava destoarmos do ambiente sisudo e maquinal dos restaurantes e bares, encher a sala cibernética de algodão doce verbal… Bastava passarmos pelo mundo abraçados ou de mão dada.

No fundo, a partir daquele dia, instituímo-nos como um sendo do outro. Ainda assim, na manhã seguinte, quiseste confirmar. Reforçando o óbvio, olhaste para mim com ternura e perguntaste:

“ - Estamos numa relação?”

Olhei para ti com ternura e respondi:

“ - Estamos numa relação.”

Lembro-me tão bem como se fosse hoje. Espero que te lembres também.

junho 11, 2015

A Quem

A quem darás o teu tempo?

A quem vais permitir que te roube o cheiro a troco de um toque?

Irás gemer a troco de quê?

A quem doarás a tua gargalhada, as tuas palavras? O teu olhar de soslaio?

Quem é que estará na cadeira oposta quando te sentares? E a quem responderás a tudo isto?

A quem? A quem
Senão a mim?

junho 08, 2015

Veludo Azul

Naquele dia... Veludo azul era o "dress code" combinado. Para além do azul que ela envergava, havia o vermelho-paixão a tingir-lhe os cabelos. Ele na mesma medida, também trazia azul, enquanto que o vermelho igualmente vestia as rosas que levava no bouquet.

Naquele dia, ela tinha na bagagem uma mão carregada de sonhos e um bilhete com destino ao coração dele, só de ida... Ele a esperava no cais, de peito reservado para a receber e a aconchegar numa longa estadia. Há quanta vida ele não estaria à espera dela?

E ele a esperou, naquele dia, com o nervoso miudinho que toma conta deste tipo de ocasiões e nos tolhe os movimentos. Após tantos textos e testes, após realmente tanta coisa, ele a esperou. E ela chegou. Cada um no lado oposto do cais. E na verdade, eram opostos; as assimetrias eram mais que muitas. Mas foram justamente as assimetrias que os levaram até ali.

Naquele dia, o beijo foi curto e atrapalhado - lá está o nervoso miudinho de novo. O que esse intruso não sabia é que aquele seria o primeiro de muitos beijos, trocados com intensa e imensa mestria, própria de quem já conhece os cantos ao lado de dentro. Eles já se no fundo já se conheciam, antes de se conhecerem.

Naquele dia, o azul não era afinal de veludo e muito menos de cetim ou seda... Mas mesclou-se com o do céu. O vermelho pulsou nas veias e nas rosas deitadas no seu leito. Todas as outras cores ganharam cor, ocupando os seus sentidos e lugares.

Naquele dia, ela chegou ao destino tão ansiado. E ele cumpriu com o seu... Faz hoje dois anos.