julho 31, 2013

Dou Por Mim

Dou por mim a querer acordar esperando que o meu despertador seja o timbre da tua voz acompanhado pela melodia dos teus dedos. Dou por mim a percorrer com o meu nariz o lençol que te cobre, a almofada onde depositas sonhos por viver e pensamentos verbalizados. Dou por mim a admirar as tuas longas pestanas, desde a raiz até às pontas. E sendo pontas soltas a formar a minha vida neste momento, dou por ti a ligá-las sem dares conta, e a formares com ela uma malha perfeitamente tecelada e impossível de desfiar.

Dou por mim a explorar a interessante mistura de cinzento com castanho que rodeia as tuas pupilas. E a desejar alimentar-me constantemente delas, e da tua pele quente, que bate aos pontos qualquer lençol macio. Dou por mim a não me querer cansar nunca de ti. E a querer mais chegadas do que partidas, ainda que atabalhoadas. E a não querer falar demasiado do que me leva a escrever tudo isto, porque desde o momento em que o dissemos um ao outro, tudo foi dito. É na cumplicidade do silêncio que ambos nos entendemos.

Dou por mim a sentir que te conheço há anos. Que os relógios passam a a ser objectos completamente inúteis perante a tua presença. Dou por mim a querer sentir-te mais e mais, e ainda assim saber tão a pouco... O pouco com o qual se faz muito...

Dou por mim a amar-te. Só isso.

julho 25, 2013

Barca

Tu és Capitão Romance
Navegando nessa barca
Querendo que ela avance
Para onde a bússola marca

Mas não, não é o Norte
A guiar-te entre o azul
Pois que haja vento forte
Que te leve até ao Sul!

julho 24, 2013

Surely

Still loving you too
But not in the way I'm supposed to...
I want it somehow!
Surely later... Not now!

julho 23, 2013

Mitologia

N., o Filho da Nuvem...
Centauro Invicto, Destruidor de Raios Élficos
Que não iluminam... Queimam!
Guardião de tesouros cor de ruby...
Excelso portador de concentrado de analgesia
Auricular e ventricular...
Exímio guerreiro que se move
Por entre terras sagradas da Mãe Gaia...

Salvé!

julho 22, 2013

Enologia

C., Especial Reserva 1969.
Cor intensa, textura forte.
Sabor encorpado, que perdura na boca, trazendo consigo o saber do tempo...
Um néctar maduro, a ser consumido sem moderação... 
Volume alcoólico docemente embriagante...
Se Baco fosse mulher, ela o elevaria ao estatuto de Elixir do Prazer Eterno... E nenhuma outra bebida seria permitida no Olimpo...
Vénus enlouqueceria de êxtase com apenas um pequeno cálice...
Seria a água onde ninfas se banhariam...
Até que uma só gota cairia na Terra... Em mim..
Fazendo-me ascender, roubar-te, provar-te e ficar para sempre tua cativa...

À nossa!

julho 21, 2013

Fiança

Querido Futuro

Espero que te encontres bem.

Escrevo-te directamente do Presente. Aproveitei um momento em que ninguém me estava a observar, surripiei um papel e uma caneta... E eis-me a redigir esta carta. Prometo ser-te breve e concisa. Também não quero ser apanhada.

Estou aqui presa, como sabes. Não te consigo precisar há quanto tempo, mas tenho noção que é o tempo suficiente para concluir que não estou bem. Não tenho cuidado de mim ultimamente; confesso que não tenho tido forças para isso. Olho para o espelho e dificilmente me reconheço. Sinto-me envelhecida, disforme, pesada. Vejo o meu cabelo quebradiço, um rosto que está a perder vida... Sofri recentemente uma entorse no pé e, apesar de já ter saído do período de convalescença, não creio que esteja totalmente recuperado. Tem um aspecto feio... Para piorar, há uma dor de dentes que me anda a atormentar...

Como já te apercebeste, o panorama não é nada bom. E todos os dias, a situação se repete: acordo, saio da cela, tomo a primeira refeição do dia, cumpro com as tarefas estipuladas, chega a pausa para almoço, volto às tarefas, pausa para jantar e regresso à cela. A rotina é a mesma de sempre, mecanizada. As tarefas são as mesmas de sempre, as pessoas ao meu redor são as mesmas de sempre. Já para não falar da comida... O meu organismo fica intoxicado, conspurcado com tanta porcaria. Se eu já não a saboreava com prazer, agora com a dor de dentes, muito menos... E nem um protesto me é permitido. Ai de mim que reclame!...

A minha cela vai-se tornando cada vez mais pequena, e o ar cada vez mais viciado e irrespirável. Não tenho companhia, ou ao menos um calendário para ir riscando. Não cheguei a trazer fotos para aqui. Mas trouxe memórias, o que basicamente vai dar ao mesmo, com a diferença de que não são palpáveis. Raras são as vezes em que recebo visitas... Já não suporto estar aqui dentro. Aliás, eu nem sequer suporto estar dentro de mim...

Prometi no início desta carta que te seria breve e concisa. Portanto, não querendo tomar muito mais do teu tempo, deixa-me ir directa ao assunto.

Sei que vais achar isto uma loucura... Mas preciso que me pagues a fiança o mais rapidamente possível. És o único que a poderás pagar. Infelizmente, não estou autorizada a sair em precária. Também não me interessam liberdades condicionais. Quero sair com a plena certeza de que, faça o que fizer (e não farei nada de mal, para que conste, muito pelo contrário), não voltarei a este lugar. Esta cadeia é horrível, acredita!... E eu não mereço cumprir esta pena. Eu não matei ninguém, eu não roubei. Fui injustamente condenada...

Por favor, Futuro... Chega mais cedo. Peço-te! Ajuda-me, porque não aguento mais! Dá-me um sinal... Liberta-me! Estou dependente de ti... E há alguém que também o está... Alguém que está lá fora, à minha espera.

Um beijo

Dina

julho 18, 2013

"Amo-te, Foda-se!" - A Teoria

O termo "foda-se" é uma interjeição de carácter comummente ofensivo, mas que neste contexto surge como um elemento verbal que reforça o sentimento expresso na dita declaração. Ou seja, tem como por objectivo enfatizar o conceito emocional que se pretende declarar, passando do carácter ofensivo para o carácter expansivo. Isto porque o conceito emocional expresso - vulgo "amor" - é por si só dotado de uma dimensão que dificilmente consegue ultrapassar barreiras físicas, neste caso corporais, tendo em conta que a componente física na qual ele é gerado - o coração - é um pequeno músculo. O termo "foda-se" auxilia portanto este pequeno músculo, através da linguagem processada pelo cérebro, a manifestar-se para além de todas as barreiras que possam existir, fazendo inclusive uma espécie de parceria com a componente não-material - vulgo "alma" - que se alimenta do conceito emocional mencionado supra.

julho 12, 2013

Um Mês

Uma rede. Uma página. Um clique. Um comentário. Um pedido. Um "olá". Uma conversa. Um elogio. Uma piada. Uma amizade. Uma tela. Um telefonema. Uma mensagem. Um concerto. Um bilhete. Um comboio. Uma viagem. Uma cais. Uma cidade. Um rio. Uma ponte. Um monumento. Uma rosa. Uma cama. Um olhar. Um sorriso. Um abraço. Um beijo. Uma carícia. Uma palavra. Um almoço. Um jantar. Um "brunch". Uma ceia. Um pôr-do-sol. Um luar. Um jardim. Um passeio. Uma foto. Uma música. Uma dança. Uma bebida. Um banho. Um perfume. Um cigarro. Um desejo. Um horóscopo. Uma roupa. Uma equipa. Uma lista. Uma inspiração. Um texto. Uma janela. Uma festa. Uma madrugada. Um anel. Uma promessa. Um reencontro. Um sonho. Uma realidade.

Um mês. Uma eternidade. Um homem. Um amor.

julho 08, 2013

Em Que Estás A Pensar?

Em que estou a pensar? No teu corpo. A sério. Na bela escultura que ele esconde. E que eu reclamo como sendo minha. Não me julgues por isso... É através dele que eu chego até ti... E quero redescobri-lo e perder-me nele uma e outra e outra vez... Perder-me nos teus olhos, nos teus lábios e na tua pele... Em que estou a pensar mais? Que sinto saudades do teu riso, das tuas piadas, de ver-te fumar... De acariciar o teu cabelo, de mordiscar a tua orelha, do teu perfume... De te pegar na mão à mesa, de te fazer massagens, de me aninhar no teu peito, de te ver a andar de tronco nu pela casa... Saudades dos nossos banhos de imersão, do nosso brunch, dos nossos jantares caseiros, da tua objectiva fotográfica... As minhas unhas cravadas nas tuas costas... A minha cintura a ondular em cima da tua... A minha língua a passear no teu ouvido...

Enquanto não me levo até ti... Trago-te em pensamentos...

julho 02, 2013

Cidade do Tempo Eterno

A Cidade do Tempo Eterno
Que me deste a conhecer
Não tem prédios muito altos
E posso olhar para o céu
As vezes que me apetecer.

A Cidade do Tempo Eterno
Tem ruelas estreitas
Onde nos podemos esconder.
Ficaram com os nossos risos
Com os nossos passos
Sem nenhum de nós saber.

A Cidade do Tempo Eterno
É luminosa e é escura
Calmaria e agitação
De atmosfera pura
Que dá gosto absorver.

A Cidade do Tempo Eterno...
Foi nela que me deixei
E não mais me procurei
Mesmo que o quisesse fazer.

Essa Cidade que amarei
Da qual cativa fiquei
Para não mais te perder.