Quem me conhece minimamente bem vai pensar que esta
rapariga só pode estar maluca, que eu saiba ela fez anos há 3 meses, a não ser
que se ache no direito de os fazer duas vezes, como só uma pessoa louca se
acharia... Nada disso. Hoje é o meu aniversário, e não porque eu tenha nascido
neste dia, mas sim porque metade de mim o fez.
Por isso, hoje acordei a pensar nessa metade e na melhor
forma de a homenagear. Pensei em proporcionar-lhe uma grande festa-surpresa, com balões, "confettis" e tudo,
embora ela não fosse achar muita piada... Não, é mentira. Não pensei em nada
disso. Justamente porque ela não iria achar piada; aliás, do pouquíssimo muito
que a conheço, arrisco a dizer que não acharia piada nenhuma. Portanto, nem seria
por aí. Lembrei-me então que, no nosso dia, aqueles que fazem parte de nós - os
verdadeiros - acabam de algum modo por nos agradecer pelo facto de os mantermos
cá dentro.
Com efeito veio-me à cabeça um determinado conjunto de olhares - os
mais belos e ternos que alguma vez me foram lançados - e agradecer à tal minha
metade por isso; é que foi ela que mo deu. Pelas tertúlias à mesa em que as
nossas bocas só diziam disparates e pelas outras em que as nossas bocas falavam
um idioma sem tradução, que só nós entendíamos. Pela nudez da verdade e da pele...
Pensei também em agradecer-lhe por se ter tornado na mais
perfeita inspiração que inúmeras vezes me guiou a caneta e os sonhos. Por me
ter suscitado algum interesse em batidas musicais oitentistas e nas batidas do
meu próprio coração... Já para não falar nos "flashes" de fotografias
captadas ao meu corpo e também ao meu sentir. Fez-me inclusive dançar com o sol
e pegar na lua com a mão! Pensei em agradecer-lhe por tudo isso e tanto mais...
Mas principalmente por se ter tornado na metade de mim que me faltava.
Hoje é o teu aniversário. Não tenho festa planeada, nem
bolo com velas, nem presentes, nem coisas especiais e lamechas tipo bilhetinhos
e pétalas de flores. Tenho apenas esta homenagem de parabéns pensada e
sobretudo sentida, e é com ela que te celebro. Obrigada. Apesar dos pesares, da
soma que o tempo nos faz à vida e da subtracção que ela depois nos vem cobrar,
da volatilidade humana e da humanidade que é errar, minha metade és tu... E eu
te amo por inteiro. Ipsis verbis.
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