Madrugada. Uma penumbra invade a sala de
estar. O sol ainda não apareceu. Está para chegar. Entretanto, estou ali
sozinha, a ser brindada com um céu mesclado de azul-escuro e arroxeado,
apenas interrompido por um tímido clarão branco que denuncia
o início de um novo dia. Uma estrela ou outra continua a brilhar lá no
alto. A cidade, que vejo através da enorme janela e que um dia chamei de
Cidade do Tempo Eterno, desperta devagarinho, entre as silhuetas
luminosas dos edifícios. Não tenho sono - por enquanto - e ainda bem.
Não podia perder este espectáculo. Esta benção de saber que é mais um
dia, que estou viva. E sobretudo, esta benção de saber que te tenho. Não
estás ali comigo... Ficaste deitado, no quarto ao fundo. Do qual eu
saí, mas ao qual vou voltar. É que entretanto, um sono ligeiro começa a
tomar conta de mim. De facto, ainda é muito cedo e na verdade, não há
pressa de se chegar a lado nenhum. Volto então para a cama onde dormes.
Onde dormimos. De súbito, pressentes que ali estou e abres
preguiçosamente os olhos. Só um bocadinho, porém o suficiente para eu
lhes captar o brilho. Olhas ensonado para mim, eu olho para ti, naquela
cumplicidade de sabermos que aquilo não é um sonho. Sorris docemente, eu
sorrio de volta... E aninho-me no calor do teu corpo. Sabe tão bem.
Voltas a fechar os olhos, eu também fecho os meus e ali ficamos. Não há
pressas de nada. O dia que está para vir pode esperar.
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