"Queria
que quando saísse do comboio e depois de acender um cigarro me tirasses
uma foto. Sem eu perceber". Foi o que me pediste por mensagem, quando
estava a ir ao teu encontro. Na altura não to disse, mas confesso-te
agora que fiquei com medo que me tivesses pedido isso como se quisesses
que eu te registasse pela última vez, tipo foto para a posteridade, do
género "fica lá então com uma última imagem
de mim, de como eu estou, de como eu sou, guarda-a na tua galeria de
fotos para mais tarde me recordares". E ainda por cima depois de
acenderes um cigarro, o que me dá a entender que ficarias calmo e
relaxado o suficiente para te expores para a minha objectiva. E ainda
por cima, querias que eu te tirasse a foto sem tu perceberes... E aí eu
percebo que talvez também tenhas feito o pedido a medo. "Tira-me uma
última foto, mas sem eu perceber, porque eu sei que será a última e isso
vai-me custar". Tal como quem diz "vai mas não olhes para trás, porque
dói-me tanto quanto te dói a ti". Ora, foi um simples pedido, nada de
extraordinário, nada de mal, e aqui estou eu a divagar e a pressupor.
Uma foto é só uma foto... Mas tu não fazes ideia do quanto eu não te
queria fotografar uma última vez, se assim tivesse de ser. Nem sequer
imaginas a quantidade de fotos que eu já te tirei sem te aperceberes.
Sem precisar de câmaras fotográficas profissionais ou das que constam
nos telemóveis de último grito. Sem precisar de efeitos especiais de luz
ou de sombra, sem precisar de te pedir que faças determinadas poses ou
sorrisos forçados, porque afinal quanto mais espontânea for uma foto,
melhor. Guardo um extenso álbum comigo, que vou folheando todos os dias;
e vejo as tuas fotos, aquelas em que sorris e me olhas com ternura,
aquelas em que olhas para o nada, aquelas em que não olhas para lado
nenhum e eu continuo a olhar-te, a captar-te e a gravar-te, sem dares
conta disso. Tiro fotos tuas antes, durante e depois de acenderes os
teus cigarros - não precisas pois de me pedir nada. Mesmo que não me
tivesses pedido que te tirasse uma foto quando saísses do comboio e
depois de acenderes um cigarro, eu tirava-a... E até hoje, até agora,
mantenho a esperança de que cada foto que eu te tire não seja de facto a
última. É que ainda há muito espaço no álbum... Tanto quanto aquele que
o meu coração guarda para ti.
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