Não sou pessoa de esconder emoções. Nunca fui, nem nunca serei.
Quando tiver que rir, rio; quando tiver que chorar, choro. Seja onde
for. Quantas e quantas vezes já não o fiz nos transportes, em pleno
horário de trabalho ou até junto de pessoas perante as quais
supostamente não devia?
E neste momento não consigo esconder
isto: é incrível como o simples facto de fazer coisas tão naturais tais
como tomar banho ou fazer a cama se tornou tão doloroso. Que se antes
adormecer era coisa que não me doía,
agora custa imenso... Vem-me à cabeça uma certa sensação de embate que
sofri (quem já foi atropelado - e sobreviveu, claro... - sabe do que
falo) e do corpo a colapsar-se todo. E acordo justamente com isso na
cabeça.
Quando se assume um
compromisso, há que cumpri-lo. E eu assumi um. O de estar perto, estar
junto, acontecesse o que acontecesse. Dissessem o que dissessem; a vida é
minha e eu é que decido o que fazer com ela. O compromisso de ajudar e
cuidar, no que fosse preciso. E somente o meu lado de dentro é que sabe o
quão veemente esse compromisso foi assumido, de forma fidedigna e
devota. Nunca procurei mais ninguém e recusei-me a dar um ínfimo de
segundo da minha vida a quem realmente não fazia por merecê-lo. Reservei
todo o meu tempo e energia para aquilo ao qual me comprometi. E assim
sendo, fui negando aquilo que se estava a tornar tão evidente à minha
volta... Que não há duas pessoas iguais, mesmo que sintam algo igual, e
que portanto a realidade não é vista e vivida da mesma forma. Que por
vezes aquilo que mais queremos não é o melhor para nós... Mas eu, dentro
do meu ovo de esperança e positivismo, daqueles bem opacos, acreditava
que havia outrém com um lado de dentro idêntico ao meu, embora não o
mostrasse.
E assim me fui mantendo, mas ao mesmo tempo um misto
de medo, ansiedade e insegurança ia rachando devagarinho a casca do ovo,
e eu, assustada, lá ia tapando as fissuras da melhor forma que podia...
Até ao ponto em que a casca se partiu, definitivamente... E o que vi no
exterior não foi bonito. Já não havia forma de recuperar o tal ovo,
portanto tive que me defender de uma espécie de monstruosidade que se
formou ao meu redor.
Cometi erros? Claro. E posso ter demorado
tempo a assumi-los, mas ao menos assumi. Mas não fiz nada, nada mesmo,
que se compare aos que foram cometidos contra mim. E sobretudo, contra o
tal compromisso. Que era tudo. Bom, no fim de contas, quem aponta o
dedo a alguém, tem logo 3 a apontar para si próprio. Também não estou
imune a isso. Por isso é que até prefiro manter a mão fechada, e deixar
que o tal karma, esse grande mestre, trate do resto. E que não demore
tanto quanto a minha vida presente. Ou melhor, ausente.