Olhei-te, enquanto olhavas para a janela. Durante largos minutos, em silêncio. Nesses largos minutos, em que me permiti olhar-te mais uma vez de uma forma da qual tu pouco te apercebes, podia ter-te dito muita coisa. Preferi manter-me calada, a olhar-te apenas. Mesmo que falasse, não prestarias lá muita atenção. Notei que estavas demasiado compenetrado nos teus pensamentos. Não me atrevi a adivinhá-los. Talvez estivesses a pensar, olhando para a janela, que o mundo não te estava a olhar de volta. Talvez estivesses a pensar nos dias que estão para vir. Ou a querer suspendê-los. Ou nas amarguras da vida. E a vontade de os suspender talvez viesse delas.
O que pensavas, eu não sei. Só sei que era capaz de ficar mais do que aqueles minutos a olhar para ti, em silêncio. Na luz ténue de um céu cinzento reflectida nos teus olhos, na tua expressão serena, na pele que denuncia que já muito passou por ti. A contemplar o teu perfil seráfico, os teus traços, que eu acho tão bonitos. Tu não acreditas, desacreditas os meus elogios, julgas ridículo eu te julgar dessa forma. Ridículo seria eu não te olhar. Porque acho que olhar-te, em silêncio, independentemente da quantidade de minutos que eu dispenso para o fazer, é das formas mais simples de te amar.
E possa eu olhar-te sempre... Mesmo que não me olhes de volta, como o mundo lá fora, que desconhece os teus traços, inclusive os de dentro. Mesmo que não te apercebas que eu estou ali, bem perto. Mesmo que continues a negar aquilo que eu vejo em ti. Mesmo que não haja janelas.
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