Conheço uma pessoa que costumava dizer que há
mais gente a querer o nosso mal do que o nosso bem. Eu não gosto de
pensar de uma forma assim tão radical. Ainda me resta uma esperançazinha
de que há gente boa neste mundo, com boas intenções, mesmo que não seja
propriamente santa, porque hoje em dia, santos só mesmo em forma de
estátuas. E talvez esta minha falta de radicalidade de pensamento seja a
culpada de eu levar com tantos golpes,
pontapés e murros no estômago, pois as minhas defesas são demasiado
fracas; o aço do escudo derrete, o muro desmorona-se, a espada parte-se.
E lá vou eu toda, coração na dianteira e cérebro na rectaguarda, para o
que der e vier. Eu confio, eu entrego, eu dou, eu sou, eu faço, eu
aconteço, eu aproveito, eu sugo as horas e os minutos e os segundos e os
milésimos de segundo até á última gota. Eu não me importo com os
ferimentos que me vão vincar o corpo no final da batalha. A minha
intuição guerreira diz não, mas eu digo sim. E eis senão quando perco o
equilíbrio na derradeira estocada. Vou contra o chão, trespassada e
rasgada... Mais uma vez. E ali fico prostrada, a esvair-me num sangue
que já pouco me corre nas veias. Faço o luto de mim própria, das minhas
atitudes inconsequentes, do querer demais de quem nada me pode dar a não
ser dores daquelas bem fundas que me corroem por dentro. Fico minada e
envenenada. Até que de súbito, me levanto. Ergo mais uma vez o escudo
derretido, volto a empilhar as pedras esburacadas, levanto a espada só
com metade da lâmina... E preparo-me para mais um embate. O chão lá
estará para me amparar. Somente o chão.
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