outubro 16, 2013

À Letra

És muito para mim. O normal seria arranjar um adjectivo para pôr no meio e tornar esta frase mais completa e com mais sentido. Em vez de adjectivos, poderia inclusive encontrar outros termos, ou comparações metafóricas, fazendo a vontade à razão e deixando que ela se tornasse a tradutora de um coração que fala aquela tal língua que muitos estudam mas poucos entendem. Poderia falar de coisas complicadamente simples tais como o elevado grau de apetecibilidade denunciado pela tua forma esteticamente interessante e intelectualmente estimulante de ser. E neste caso, o coração franziria o sobrolho, como quem acha que o intérprete anda ali a meter os pés pelas mãos, quando afinal o que ele quer é transmitir o que é dito de uma maneira mais eloquente e prestigiada. Não compliquemos de facto as coisas. És muito para mim, e quero que sejas ainda mais. Sem adjectivos, porque na verdade eles se perderam na tal tradução. Só quero que sejas muito mais esse muito, que o coração discurse sem parar e tanto e com tanto de si que a razão desista de se intrometer e se retire do outro palanque, por não haver, na verdade, palavras que valham. E na verdade, eu quero que esse muito seja ainda mais muito e ainda melhor. E quero não conseguir explicá-lo nunca. Desde quando é que se explica o que não se pode entender?

Quero só que sejas muito para mim. Como já o és, literalmente.

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