outubro 18, 2013

Casa

Nada me é estranho. Nada me causa desconforto. Nada ali me faz querer não pertencer. O chão de ocre que se distende em direcção à luz imensa, que o inunda, que se espelha para todo o restante espaço... Para lá da luz, um outro espelho, elementar, emoldurado por tons de terra e alvura, pacatos. A ponte de metal lá ao fundo, de aspecto austero e imponente, todavia não me metendo medo, pois tantas vezes a atravessei... A imensidão do céu azul, uma lufada de ar fresco e novo na alma. Sustenho a respiração. Piso o chão, sem deixar de contemplar tudo aquilo. Naquele chão onde sei que hei-de dançar, deambulear, amar, quem sabe deitar-me nele e fundir-me no espelho. Ali ao lado está um cavalete... Nem de propósito. O pretexto perfeito para imortalizar em linho as sensações que absorvo. Uma ou outra gaivota me sobrevoa. Tão longe dali, e tão perto. A grande mesa de vidro aguarda por sensata luxúria... A lareira sequiosa de não dar a mais absoluta trégua a noites de chuva e frio. Se me voltar para o mesmo lugar de onde vim, dou de caras com um canto mais recôndito, mas igualmente merecedor de luz, de espelhos, de céu azul. De abraços, de risos, de janelas abertas nas manhãs domingueiras e solarengas. De cheiros de velas, de vapor de água quente, de livros, de momentos relaxantes, de arte em todas as suas formas. De crenças de que o caminho realmente é para a frente. E novamente volto ao chão de ocre, e naquele momento sinto os espaços como unos. Não me são estranhos ou desconfortáveis. Eu já ali estive, sem nunca ter estado.

Bem-vinda a casa.

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