maio 07, 2013

Café Duplo

Duas doses de pó mágico, uma chávena grande, água bem quente – eis a receita. Confesso que não sou grande apreciadora da mesma, só que por vezes há que a confeccionar. A maioria dos comuns mortais consome-a todos os dias (ou quase todos), pelo menos uma vez ou até mais, e consta que também acrescentam açúcar ou adoçante, como é da praxe. Eu não. Consumo esporadicamente e não acrescento nada a não ser um pouco de natas, às vezes, e uma pitada de canela em pó. Fica mais interessante, à laia de bebida “gourmet”.

Sorvo-a devagar, tendo cuidado para não queimar a língua. A nuvem fofa de natas e canela vai-se desfazendo aos poucos no líquido. Entretanto lembrei-me que a maioria dos comuns mortais prefere uma chávena pequena em detrimento da grande. Pois eu gosto mais desta última, uma dupla dose; no meu caso, sempre funciona melhor do que apenas uma. É duplamente reconfortante e estimulante.

Reconforto-me e estimulo-me desta maneira quando o meu corpo pede uma carga extra de energia para enfrentar mais um dia de trabalho, manter-me mais alerta e atenuar insónias propositadas. Ou então isto é tudo uma desculpa esfarrapada para saborear natas disfarçadamente, sem estar a aturar reclamações da balança, ou até mesmo para mostrar aos comuns mortais que também faço parte do rebanho. Só não saco é do cigarro.

Na verdade, até nem poderá ser nada disto. Sorvo este café duplo muito provavelmente como desculpa para pensar um pouco mais em ti enquanto não começa mais uma sessão de tortura laboral. A pausa para o café é quase como um momento fora do tempo, em que nos abstraímos de tudo e entramos numa espécie de introspecção. Nesse momento, somos só nós e a chávena.

Eu, a chávena e tu. O café não te substitui de forma alguma, contudo também é doce, quente, revigorante, aconchegante, terapêutico. E ainda por cima, como é duplo, fornece todas essas propriedades a dobrar, para além de se demorar mais tempo a bebê-lo, devido ao tamanho da chávena... O que é óptimo, porque consequentemente, consigo incluir-te na minha introspecção de modo mais prolongado.

Havemos de tomar um café juntos, um dia destes. Curto, longo, simples, duplo, triplo, não interessa... Desde que possamos gozar de um momento introspectivo em simultâneo. E se não houver natas nem canela, ou até mesmo o básico açúcar, acredita que nem sequer me vou importar.

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