abril 27, 2013

A Viagem

Eis-me chegada ao meu destino. Munida de natural excitação, curiosidade e bastante interesse, inicio a minha visita guiada. És tu que abres as hostes. Em jeito de introdução ao percurso, permites-me fazer primeiro um breve reconhecimento da tua essência, só para ter uma ideia daquilo que vou poder encontrar. E parece-me bem - à partida, acho que vou gostar de te explorar, de te descobrir e de me divertir com isso.

Caminho pela tua história enquanto te oiço atentamente. Falas numa língua que eu entendo na perfeição, como se tivesse sido criada de propósito para mim. Mesmo assim, coloco-te algumas questões, tu respondes e eu anoto tudo no meu bloco de folhas até então vazias, prontas a serem preenchidas de ti. Continuo a ouvir-te; aquilo que foste, aquilo que agora és, aquilo que supostamente serás. Os factos encadeiam-se com os argumentos, as ideias rematam os sonhos, as vontades aliam-se aos princípios. E eu fico maravilhada com toda essa conexão que me mostras e que é tão semelhante à minha... À minha história, sobretudo. Sinto que aprendi muitíssimo, e não me fico por aí, como é óbvio. Sei que há muito mais...

Primeira paragem para uma breve degustação do teu sorriso, da tua boa disposição e boa conversa, preparada à base de trivialidades, com uma pitada de inteligência e desenvoltura intelectual. Deixo-me seduzir pelos aromas que me proporcionas... E para aperitivo, não estão nada maus...

Percorro de seguida as montanhas das tuas tantas outras virtudes. De vez em quando lá vou vislumbrando um ou outro rochedo, vegetação assim como que selvagem, agreste, rompendo o solo desbragadamente, sem ordem... Mas a paisagem no seu todo é graciosa e resplandecente. Contemplo-te. Acabo por encontrar uma linda cascata, e nela corre toda a simplicidade do teu existir. Apetece-me banhar-me nela para sempre... Outros lugares desconhecidos me esperam, porém. Um deles é o imponente palácio, cujo estilo arquitectónico remonta aos teus projectos futuros, ornamentados com esperanças e ambições... Com o meu olhar de turista curiosa, prescruto cada divisão atentamente, e vou apontando mais umas notas no meu bloco... Como por exemplo, que ali viveram anteriormente algumas rainhas. Umas ocuparam o trono por pouco tempo, outras um pouco mais, consoante a duração do reinado. Imaginei como seria bom viver ali... Quem me dera!

E esta viagem não termina sem antes entrar num magnífico templo, frequentado por tanta gente crente, mas na qual não se pode acreditar... Eu fujo um pouco disso, pois trago fé comigo. Acredita. Curvo-me com respeito e observo serenamente uma outra dimensão que me é ali apresentada... A dimensão do teu toque suave, do arrepio intenso que nasce dele sem avisar, do aconchego que experimento nos teus lábios, na tua língua, nos teus braços... Não me cobraste devoção à entrada, só que eu me sinto no dever de a prestar, neste templo construído nas linhas do teu corpo. De espírito transcendido, alcanço o teu altar, onde prostras um sagrado coração... E que belo que é! Medito. A fé que eu trazia em mim renova-se e fortalece-se perante tamanha grandeza. E crio logo ali a minha doutrina.

Infelizmente chegou a hora de partir. Amei, absolutamente, esta visita guiada. E tanto, mas tanto, que estou a pensar seriamente em fixar residência no tal palácio, e fundar uma nova dinastia. E voltar ao templo as vezes que eu quiser, para professar uma religião há muito negada.

Será que me fazes um desconto especial?

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