abril 14, 2013

O Barco

Agarrei num pequeno pedaço de papel escrevinhado, à partida inútil. E na minha sapiência infantil, fiz dele um barquinho, o mais perfeito e bonito que consegui. Fiquei a olhar para ele. Palavras e palavras rabiscadas anteriormente conferiam-lhe um aspecto interessante, muito mais apelativo do que se eu o tivesse feito usando um papel em branco. Palavras essas que se cruzavam nas dobras e misturavam-se, sendo agora impossível lê-las. No entanto sei que elas estavam lá. E o seu significado também.

Pus o barquinho na água, pronto a navegar, ele e as palavras todas. Mas o barquinho cedeu à superfície e amoleceu. Desfez-se e afundou-se. Nem as palavras nele escritas lhe valeram.

Fiquei triste. O pedaço de papel não era tão inútil assim.

Concluí que, por mais palavras, e frases e afirmações que existam, de nada servirão se não houver superfície estável que as receba, que as segure e ao mesmo tempo que as deixe seguir o seu curso. Não era minha intenção fazer com que o barquinho se afundasse. Será que foi o peso das palavras? Mas elas, cheias de tanta vontade própria em seguir o seu curso - tal como eu as conheço - não deveriam querer tal coisa.

Para a próxima faço um barquinho de papel com uma folha em branco, maior e tudo. Pode ser que dessa vez ele siga feliz, contente e livre até ao seu porto.

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