"Tens quarto de poeta" - disse-lhe ela.
Ele guardava ali todos os livros, qual biblioteca improvisada. Talvez não houvesse mais espaço noutras divisões. Mas não eram escritos por ele, nem nada que se parecesse. Talvez o aroma a papel desfolhado e a letras a fizesse assumir que ele tivesse um quarto de poeta.
Havia ali também um piano. De facto não deveria haver mais espaço. Ou então o quarto era grande. Ou então era tudo uma questão de praticalidade - acordava, agarrava a inspiração que acordava com ele, sentava-se e tocava. Só não escrevia, realmente. O sol entrava de mansinho pela janela, iluminando as teclas constantemente percorridas, ora inexperientemente, qual aluno principiante, ora freneticamente, como se fosse ele o magno conhecedor de todas as sinfonias e melodias mais perfeitas que alguma vez foram criadas. Só não era pianista.
Era poeta, assumia ela mais uma vez. E isto porque talvez ele lhe recitava versos em forma de abraços, de beijos, de carícias, poesia declamada com a voz da cumplicidade, do desejo, da sintonia, com a voz da felicidade, arrisco-me eu a dizer. E ele arriscava ao piano, mesmo não sabendo sequer uma pauta específica, ou não querendo saber de todo. Só porque aquela que o ouvia continha todas as notas e variações que ele precisava, tudo tão bem encadeado que ele não teria nenhuma dificuldade em interpretar. Aquela música era única, imaculada, intemporal.
Ele não era pianista, nem poeta. Mas tinha o quarto como tal, segundo ela. Ela, que desconhecia afinal a sua condição de musa.
Ele guardava ali todos os livros, qual biblioteca improvisada. Talvez não houvesse mais espaço noutras divisões. Mas não eram escritos por ele, nem nada que se parecesse. Talvez o aroma a papel desfolhado e a letras a fizesse assumir que ele tivesse um quarto de poeta.
Havia ali também um piano. De facto não deveria haver mais espaço. Ou então o quarto era grande. Ou então era tudo uma questão de praticalidade - acordava, agarrava a inspiração que acordava com ele, sentava-se e tocava. Só não escrevia, realmente. O sol entrava de mansinho pela janela, iluminando as teclas constantemente percorridas, ora inexperientemente, qual aluno principiante, ora freneticamente, como se fosse ele o magno conhecedor de todas as sinfonias e melodias mais perfeitas que alguma vez foram criadas. Só não era pianista.
Era poeta, assumia ela mais uma vez. E isto porque talvez ele lhe recitava versos em forma de abraços, de beijos, de carícias, poesia declamada com a voz da cumplicidade, do desejo, da sintonia, com a voz da felicidade, arrisco-me eu a dizer. E ele arriscava ao piano, mesmo não sabendo sequer uma pauta específica, ou não querendo saber de todo. Só porque aquela que o ouvia continha todas as notas e variações que ele precisava, tudo tão bem encadeado que ele não teria nenhuma dificuldade em interpretar. Aquela música era única, imaculada, intemporal.
Ele não era pianista, nem poeta. Mas tinha o quarto como tal, segundo ela. Ela, que desconhecia afinal a sua condição de musa.
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